






Pai Antonio de Aruanda
Espírito que se manifesta como um preto velho, Pai Antonio foi um escravo em uma de suas encarnações, sendo também ele a primeira entidade a pedir uma guia (colar) de trabalho, até hoje usadas pelos membros da Tenda e carinhosamente chamado de "Guia de Pai Antonio".
Foi também o espírito responsável pela inserção na Umbanda dos pontos cantados, enquanto esteve presente incorporando na Tenda foi o responsável por grande número dos pontos criados. O primeiro ponto de Umbanda, nasceu logo na primeira sessão quando Pai Antonio pediu o seu cachimbo. Contando a história de sua passagem pela terra, ele explicou que por ser um senhor de idade, não ia mais para o corte da lenha, mas quando foi buscar um feixe de lenha para a sua necessidade, se sentiu cansado, encostou no tronco de uma árvore e nunca mais acordou. Quando perguntando se sentia falta de alguma coisa, lembrou que o único bem pessoal que não pertencia ao senhor era o seu pito, sendo este solicitado no ponto a seguir:
“Meu cachimbo está no toco,
Manda moleque buscar. (bis)
No alto da derrubada,
Meu cachimbo ficou lá. (bis)
Que arruda tão bonita,
Que vovô mandou arrancar. (bis)
Mas não chore meu netinho
Que vovó manda plantar.” (bis)
Em outra encarnação, Pai Antonio teria sido um médico respeitado na região serrana do Rio de Janeiro, vem desta encarnação o seu conhecimento da medicina.
Uma ocasião, numa pequena reunião de cinco pessoas, um protetor caboclo descarregava os maus fluidos de uma senhora, enquanto também incorporado, um preto velho, Pai Antônio, fumava um cachimbo, observando a descarga.
- Cuidado, caboclo avisou o preto. O coração dessa filha não está batendo de acordo com o pulso.
- Como é que Pai Antônio viu isso? Deixe verificar, pediu um médico presente à sessão.
Depois da verificação, confirmou o aviso do preto, que o surpreendeu de novo, emitindo um termo técnico da medicina, e explicando que o fenômeno não provinha, como acreditava o clínico, de suas causa fisiológicas, porém de ação fluídica, tanto que terminada a descarga, se restabelecia a circulação normal no organismo da dama. E assim aconteceu.
O doutor, então, quis conversar sobre a sua ciência com o espírito humilde do preto, e, antes de meia hora, confessava, com um sorriso, e sem despeito, que o negro abordara assuntos que ele ainda não tivera oportunidade de versar, e estranhava:
- Pai Antonio não pode ser o espírito de um preto da África e não se compreende que baixe para fumar cachimbo e falar língua inferior ao cassanje¹.
Foram muitas as curas praticadas por Pai Antonio, outra pequena história, contada pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas em uma de suas gravações fala sobre o Pai Antonio, nos mostrando o conhecimento que esse espírito possui da plantas presentes na natureza.
Certa vez em busca da cura de sua filha, o deputado federal José Meirelles em uma consulta Pai Antonio lhe responde:
- Vai a tua casa, no último canteiro vai mexer a terra e encontrará algumas raízes, vai cozinhar essas raízes e dar a sua filha que ela estará curada.
Era a batata da angélica, porque não havia naquela ocasião flores, as batatas estavam somente de baixo da terra.
A menina ficou curada, e, após certo tempo, o deputado fundou uma das sete primeiras tendas por ordem do Caboclo das Sete Encruzilhadas.
Em outro ponto, Pai Antonio mostra seu conhecimento da medicina.
“Da licença Pai Antonio,
Que eu não vim lhe visitar,
Eu estou muito doente,
Venho para me curar.
Se a doença for feitiço,
Tirará em seu gongá,
Se a doença for de Deus,
Ah, Pai Antonio vai curar.
Coitado de Pai Antonio,
Preto Velho curando,
Foi parar na detenção ai,
Por não ter um defensor.
Pai Antonio é umbanda, é curadô, (bis)
É pai de mesa é curadô, (bis)
Pai Antonio é umbanda, é curadô." (bis)
OUTRA HISTÓRIA DE PAI ANTONIO
Pai Antônio é um bondoso e amável Preto Velho, que trabalha nos
Terreiros de Umbanda, distribuindo a caridade, a luz, o amor e a paz
com seu tercinho abençoado por Oxalá e todos os Orixás.
Ele de um modo tranquilo e sereno, sempre pitando seu cachimbo,
bebendo seu café com mel em seu cuité e protegendo as pessoas que nele
tem fé.
Sua última passagem como encarnado nessa terra se passou pelos
meados do século XVIII e o século XIX, primeiramente em uma fazenda
cafeeira na região Sudeste do Brasil, onde era escravizado e obrigado
a trabalhar nas roças tanto de café quanto de cana de açúcar, sobre o
Sol forte, a chuva intensa, os maus tratos de feitores sobre o comando
do coronel que acreditava que os negros não passavam de animais, e
mereciam sofrer sobre as chibatas covardes, e os maus tratos no tronco
de torturas.
Mesmo assim Pai Antônio não perdia a fé, acreditava em uma força
maior, acreditava que Zambi (Deus) estava ali para lhe proteger de
suas possíveis desesperanças, seu instante de pouca fé, suas
angústias. E assim clamava, rezava e orava a esse tão amável protetor
de todos os filhos, passando essa mesma fé e esperança a seus filhos e
irmãos de raça, para que assim esses também pudessem crer de verdade,
com amor e convicção, sem se deixarem ser tomados pela tristeza que
teimava em nascer dia após dia.
Ele pregava a todos para não desanimarem, pois o desânimo os
entregariam para os braços da morte, e se entregando assim para a tão
temida morte sem lutar, estariam sendo infiéis a Zambi.
E com essas palavras Pai Antônio conduzia a todos os negros que
muitas vezes se sentiam sem esperanças a caminhar para um novo dia e
uma nova luta.
Pela manhã ou pela noite, dentro da senzala fétida, o amado Pai
Antônio tinha seu encontro com Zambi, e ali ele se entregava com todo
seu carinho e fé. Pedia forças não só para ele, mas para todos seus
irmãos de raça e seus filhos escravizados, que naquela época já tinha
algumas dezenas, sendo ele de boa saúde, forte e de extremo bom senso,
foi logo escolhido para ser procriador da fazenda.
Ele amava cada um dos seus filhos e filhas, tinha no coração a
alegria de vê-los crescer saudáveis e robustos. Mas da mesma maneira
as lágrimas nasciam em seus olhos assim como no seu coração quando por
algum motivo tinha que se separar de sua prole. E isso era constante,
seus filhos iam de senzala a senzala, e logo eram também
comercializados para outros coronéis em outras fazendas da região e
fora dela. E isso fazia Pai Antônio chorar, saber que um dos seus
filhos estaria distante, sendo açoitado, torturado, sofrendo nas roças
escaldantes.
Pai Antônio foi o primeiro negro da Fazenda a ter filhos gêmeos,
esse fato aconteceu com o entrelace de Pai Antônio com a negra
Joaquina, que era apenas uma menina na época, mas como era saudável e
bem jovem, o coronel a escolheu para ser reprodutora juntamente com
Pai Antônio.
Com ela Pai Antônio teve, além dos gêmeos, mais seis filhos, sendo
a última que fora chamada de Antônia em homenagem ao pai.